NÃO À DESCRIMINALIZAÇÃO DAS DROGAS PELO STF – O Estado de São Paulo 01/04/2019

A discussão sobre a descriminalização/legalização ou não da maconha é, de certa
forma, curiosa. Cada vez mais tenho a convicção de que argumentos baseados
puramente em ideologias não se sustentam frente às descobertas científicas sobre
os danos provocados pela droga. Elas não param de surgir, tanto no âmbito social,
quanto em saúde.
Um dos exemplos é o estudo publicado em fevereiro na JAMA Psychiatry,
publicação científica das mais respeitadas do planeta, que demonstra que quem
usa maconha na adolescência tem um risco maior de desenvolver depressão ou
comportamento suicida na vida adulta, do que quem não consumiu a droga.
Falamos de um risco 37% maior no caso da depressão e de 50% em relação ao
comportamento suicida. Esse levantamento acompanhou mais de 23 mil pessoas,
da adolescência até a fase adulta e é um dos mais relevantes já feitos na área de
dependência química.
Outro importante veículo, o The Lancet Psychatry, publicou no último dia 19 um
estudo realizado com quase mil pessoas de diversas localidades da Europa e do
Brasil. Ele cobriu um período de cinco anos e analisou diferenças entre quem não
faz uso de maconha e quem a consome regularmente (inclusive a de alta potência,
com mais de 10% de THC). Dentre as conclusões, está o fato de que 50% dos
episódios de surtos psicóticos poderiam ser prevenidos dentre os usuários em
Amsterdã , caso a maconha de alta potência não estivesse disponível à população.
Você não leu errado: metade dos casos. O dado em Londres é de 30%.
Estou citando apenas novos estudos novos, que passam a integrar a literatura
médica, mostrando como o consumo puro e simples de maconha é nocivo para a
saúde.
Vamos agora falar do ponto de vista social? Veja o caso dos estados de Washington
e Colorado, pioneiros na legalização da maconha para fins medicinais. Dados
coletados pelo pesquisador Jeffrey Zinsmeister, especialista em políticas públicas
sobre drogas da Universidade da Flórida, mostram que a legalização da maconha
para fins medicinais nestes locais fez com que seu uso fosse maior e aumentasse
mais rápido do que a média nacional americana, inclusive dentre a população de
12 a 17 anos. Na cidade de Denver, que é capital do Colorado, a criminalidade
registrou uma taxa de crescimento anual composta de 11%, entre 2014 e 2016. Em
Washington, duplicou o número de acidentes fatais, relacionados com a maconha,
após a medida.
Abro parênteses para falar da “maconha medicinal”. Uma tecla na qual sempre
bato é a diferença entre fumar a droga e usar substâncias presentes em sua
composição de forma terapêutica. São coisas completamente diferentes! A

maconha é composta de mais de 500 elementos, muitos deles nocivos, mas possui
também itens com efeito medicinal. Simplesmente fumar a droga provoca mais
efeitos alucinógenos e danosos do que terapêuticos. Agora,extrair substâncias para
fins medicinais, sintetizando-as para consumo de forma segura? Ninguém em sã
consciência é contra isso.
Voltando ao social, no caso do Brasil, a questão da criminalidade é um ponto
preocupante. O julgamento da descriminalização do porte de drogas para uso
pessoal, que deve ser retomado em junho no Supremo Tribunal Federal (STF),
pode simplesmente representar um passe livre para o tráfico no país, ao menos de
maconha.
Em 2015, o ministro Gilmar Mendes do STF votou a favor da descriminalização de
todas as drogas, Luis Roberto Barroso e Edson Fachin votaram pela
descriminalização apenas da maconha. Barroso sugeriu fixar o limite de 25 gramas
para a posse de cannabis, uma quantidade suficiente para diversos cigarros da
droga. Veja o risco da medida – a grande maioria do tráfico no Brasil é
caracterizada pela capilaridade, por pequenos traficantes espalhados em
determinado território, vendendo drogas também em pequenas quantidades.
Ocorrendo a liberação do porte para uso pessoal em tal quantidade, ficará muito
complicado diferenciar o traficante do usuário. Na prática, fica mais simples para o
criminoso vender a droga, fortalecendo o crime organizado. É simplesmente
ingênuo pensar o contrário.
Ao analisar friamente os fatos, o que vemos acontecer é que a flexibilização das leis
neste caso provoca danos à sociedade. Como pesquisador e médico, reforço a
importância da utilização de dados científicos confiáveis para embasar políticas
públicas. E os dados alertam a sociedade – a descriminalização é prejudicial à
saúde.

 

Ronaldo Laranjeira
É professor de psiquiatria da Escola Paulista de Medicina e PhD em Psiquiatria
pela Universidade de Londres

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ALCOOLISMO E DEPRESSÃO

Alcoolismo e depressão

*Por Adriana Moraes 

O uso abusivo de álcool é um grave problema de saúde pública. A depressão é comum entre os indivíduos que bebem e pode ter fator decisivo na busca de tratamento. Os problemas relacionados ao uso de álcool e depressão são as duas doenças psiquiátricas, isoladamente, mais comuns encontradas na população, também estão entre as doenças que mais custam aos cofres públicos.

Pela grande capacidade de o álcool produzir sintomatologia semelhante a da depressão e também de mascará-la, o diagnóstico desta deve ser feito com cautela e de preferência após um período de abstinência.  Em geral, a depressão antecede o surgimento da dependência do álcool, principalmente em mulheres, porém, na maioria das vezes, é difícil determinar o transtorno primário e o secundário, visto que há interferência entre os transtornos depois de instalada a comorbidade. [1]

9% dos idosos do país consomem álcool diariamente

O Jornal Folha de S. Paulo em 21/01/2018 na matéria “9% dos idosos do país consomem álcool diariamente” informou dados da Pesquisa Datafolha inédita mostrando que quase um em cada dez homens idosos brasileiros (9%) bebe todos os dias, cinco vezes a média do país (2%) e o dobro do percentual de beberrões (4%). Entre as idosas, 81% não bebem, contra 57% dos idosos, o que confirma a tendência na população em geral de as mulheres serem menos expostas ao álcool que os homens (63% delas não bebem, contra 6% dos homens). Para a psiquiatra Dra. Ana Cecília Marques, o idoso alcoólatra é um “paciente invisível”, que muitas vezes desenvolve a dependência após a aposentadoria, divórcio ou a viuvez. O uso do álcool também pode desencadear ou potencializar distúrbios psiquiátricos, como a depressão, muito associada aos suicídios entre os idosos. [2]

O álcool sendo um depressor do sistema nervoso central aumenta os riscos do dependente químico ter depressão?

dr hammer

Definir se uma pessoa está infeliz ou se está com depressão pode ser muito difícil quando ela está bebendo. Importante relembrar um trecho do texto do psiquiatra Dr. Hamer Palhares no site da UNIAD no qual o médico respondeu a seguinte pergunta: “O álcool sendo um depressor do sistema nervoso central aumenta os riscos do dependente químico ter depressão”?

Dr. Hamer explicou que o álcool é considerado uma droga “suja”, sob o ponto de vista de que age em diversos sistemas neurotransmissores no cérebro, tais como o sistema noradrenérgico, serotoninérgico, gabaérgico, glutamatérgico, opióide, etc. Quando dizemos que o álcool é depressor do sistema nervoso central estamos afirmando que ele tem uma ação sedativa intrínseca, a qual se exerce por sua ação principal no sistema GABA (ácido gama amino butírico, o qual é a principal molécula com efeito inibitório no sistema nervoso central). Contudo, é bom lembrar que os efeitos do álcool variam conforme a frequência, intensidade de consumo e quantidade ingerida. No uso continuado, ocorre uma alteração nítida de humor, cursando geralmente com maior irritabilidade e sintomas depressivos. Um estudo evidenciou que pacientes que paravam de beber, após uma semana, apresentavam sintomas depressivos suficientes para preencher o diagnóstico de depressão em 42% dos casos. Contudo, mesmo sem serem medicados ou receberem psicoterapia, após mais três semanas, ou seja, com um mês de abstinência, apenas 6% dos casos permaneciam depressivos. Isto sugere que a maior parte dos sintomas depressivos e dos pacientes que apresentam-se deprimidos e que abusam de álcool podem melhorar com a simples abstinência e que não abordar o consumo de substâncias seria perder uma ótima oportunidade de intervir de forma efetiva, simples e sem a necessidade de medicamentos. [3]

*Adriana Moraes – Psicóloga da SPDM (Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina) – Especialista em Dependência Química – Colaboradora do site da UNIAD (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas).

Referências:

[1] Dependência Química: prevenção, tratamento e políticas públicas / Alessandra Diehl – Daniel Cruz Cordeiro – Ronaldo Laranjeira – Porto Alegre: Artmed, 2011.
[2] http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2018/01/1951983-9-dos-idosos-do-pais-consomem-alcool-diariamente-diz-datafolha.shtml
[3] http://www.uniad.org.br/interatividade/noticias/item/25171-confira-a-entrevista-exclusiva-com-o-psiquiatra-dr-hamer-palhares-sobre-depress%C3%A3o-e-depend%C3%AAncia-qu%C3%ADmica

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Osmar Terra diz que defender uso medicinal da maconha é mostrar desconhecimento

Critica declarações de Marta Suplicy

Senadora relata PL que libera cultivo

A senadora Marta Suplicy (sem partido-SP) defende o uso medicinal de maconha e o deputado Osmar Terra (MDB-RS) é contraSérgio Lima/Poder 360 – 20.jun.2017 e Wilson Dias/Agência Brasil

O deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), ex-ministro do Desenvolvimento Social do governo Temer, afirmou que quem defende o uso de maconha medicinal “demonstra 1 profundo desconhecimento“.

Essa história de defender maconha medicional demonstra 1 profundo desconhecimento. Sou médico, tenho mestrado em neurociência. Sei o efeito que a maconha tem nos receptores cerebrais, que recebem o THC [tetraidrocanabinol, responsável pelos efeitos alucinógenos da maconha]. De todas as substâncias que causam dependência química, é a que afeta uma maior extensão do cérebro“, disse ao Poder360.

A declaração foi dada nesta 6ª feira (23.nov.2018).

O emedebista referia-se à entrevista concedida pela senadora Marta Suplicy (sem partido-SP) ao Poder360publicada na manhã de 6ª (23.nov). A ex-colega de partido do congressista é relatora do projeto que libera o cultivo da planta Cannabis sativa. A proposta está na CAS (Comissão de Assuntos Sociais) do Senado.

Osmar Terra tem 68 anos. É filiado ao MDB desde 1986 e deputado federal reeleito. Foi ministro do Desenvolvimento Social (2016 a 2018), secretário de Saúde do Estado do Rio Grande do Sul (2003 a 2010) e prefeito de Santa Rosa-RS (1993 a 1996).

Em sua trajetória, destacou-se pelas posições proibicionistas em relação às drogas. Expõe as visões contra a legalização em seu site pessoal. E, ao Poder360, disse que Marta Suplicy não entende nada da área medicinal.

Admiro muito o trabalho da Marta Suplicy, mas ela não entende desse assunto. Ela não entende de área medicinal“, disse.

De acordo com Marta, a liberação da maconha para uso medicinal beneficiaria pessoas que sofrem de males como Parkinson, Alzheimer, autismo e epilepsia.

CÂMARA E SENADO SERÃO “ANTIDROGAS”

O deputado não acredita que a proposta relatada por Marta avançará. Ao contrário da paulista, que disse que as pessoas “são conservadoras, mas não insensíveis“, o emedebista disse que em 2019 o projeto tem menos chances de tramitar pelas Casas.

O projeto não passa, não passa, não passa. Isso não tem como passar. A próxima legislatura será anti-drogas. Eu tenho 1 projeto [leia a íntegraque endurece a política, e só não avançou porque os senadores seguraram. Vamos ver em 2019“, disse.

CANABIDIOL É “UMA EM 450 SUBSTÂNCIAS

O congressista afirma que o canabidiol – composto químico encontrado na cannabis e utilizado para combater crises epilépticas – é “uma em 450 substâncias” encontradas da maconha. Para o congressista, é necessário separá-lo.

O cigarro da maconha tem 450 e poucas substâncias, todas tóxicas. Você tem que separar. A morfina vem da heroína, por exemplo. Uma coisa é separar o canabidiol, que pode ter 1 efeito importante em epilepsias raríssimas, mas usar como desculpa para fumar maconha, para disseminar o uso com facilidade, você cria muitos problemas graves, sem volta“, disse.

Osmar Terra compara o uso do canabidiol com o da bradicinina, substância encontrada no veneno da jararaca e base para remédio para hipertensão arterial.

Quando o bicho mordia, o humano morria após entrar em choque. Isolou-se a molécula da bradicinina, que é a substância que causa a diminuição de pressão. Você vê alguém receitando picada de jararaca? É o principal medicamento (captopril) usado para hipertensão arterial“, afirmou.

“A médio prazo, a maconha traz danos permanentes: déficit cognitivo, de memória, uma espécie de retardo mental, quando não ficam esquizofrênicos”, complementou.

O deputado encerra a conversa dizendo que o uso de maconha “tem que ser uma decisão científica, não política”.

Fonte: https://www.poder360.com.br/congresso/osmar-terra-diz-que-quem-defende-maconha-medicinal-demonstra-desconhecimento/?fbclid=IwAR1t2BWjZigPpjPKx7FFgxviYlgzkh2uH3HgWGTjjQ48cI211atF2156K7k

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O algoritmo desenvolvido por brasileiros para tentar prever e evitar suicídios

 

Imagem mostra braço se aproximando de celular
Direito de imagemGETTY IMAGES
Image captionFerramenta é capaz de analisar sinais de risco no uso do celular

“Alerta vermelho: você corre o risco de cometer suicídio.” Ao receber este aviso no smartphone, o paciente pode buscar ajuda e evitar o pior. Este é o objetivo de um estudo realizado pela equipe do Laboratório de Psiquiatria Molecular do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) e divulgado na revista científica Plos One.

Os pesquisadores criaram um algoritmo capaz de analisar textos em busca de sinais de que o autor daquelas anotações possa vir a se matar. Como paciente fictício, a equipe do HCPA utilizou ninguém menos que Virginia Woolf, escritora britânica que tirou a própria vida aos 59 anos.

Um dos responsáveis pelo estudo, o médico psiquiatra e professor Ives Cavalcante Passos, explica que a opção por Virginia Woolf se deve ao histórico da escritora, semelhante ao de várias pessoas que acabam por se matar: sofria de transtorno bipolar e ao longo da vida tivera diversos episódios depressivos seguidos de tentativas de suicídio.

Virginia Woolf tinha a vantagem de ter uma vasta produção de textos pessoais publicados, já que escrevia quase diariamente cartas e anotações em seu diário.

O algoritmo escolhido foi o mesmo utilizado pelos e-mails para identificar quais mensagens devem ir para a caixa de spams e quais devem ficar na caixa de entrada.

O primeiro passo foi “ensinar” o algoritmo a identificar cartas e anotações relacionadas ao desfecho do suicídio. Para isso, foram utilizados textos escritos por Virginia Woolf dentro dos dois meses anteriores à sua morte.

Este corte temporal foi determinado pelos médicos, que entendem que neste período ela já havia entrado em um estágio crítico para o risco do suicídio.

Depois que o sistema estava treinado, ele foi aplicado aleatoriamente em diversos textos da romancista, escritos tanto em períodos pré-tentativas de suicídio como em outros períodos em que ela estava fora de risco.

O resultado é que o algoritmo acertou em 80% dos casos. Ou seja, a cada 100 textos analisados, em 80 ele apontou corretamente o desfecho: se Virgínia iria ou não tentar se matar nos próximos meses.

Segundo Passos, a ideia é que, no futuro, a mesma ferramenta possa ser transplantada para um aplicativo capaz de analisar tudo aquilo que escrevemos no smartphone, como mensagens no WhatsApp e em redes sociais, e que iria emitir um alerta caso haja risco de suicídio.

Mas o médico lembra que o algoritmo é individualizado, já que o padrão de escrita de cada pessoa é diferente. Ou seja, o algoritmo construído para Virginia Woolf funciona apenas para Virginia Woolf.

Além disso, a ferramenta só pode ser aplicada em pacientes que já tentaram se matar, justamente porque precisa ser treinada com base em eventos prévios. Como explica o professor, o principal fator de risco para suicídio é justamente já ter tentado suicídio.

Foto de perfil da escritora britânica Virginia WoolfDireito de imagemGEORGE C BERESFORD/GETTY IMAGES
Image captionPara desenvolver ferramenta, equipe usou textos da escritora britânica Virginia Woolf

Mais do que isso, as pessoas costumam deixar sinais de que vão se matar: “Essa pessoa que dá pistas, que fala que vai se matar, que escreve uma carta de suicídio, ou o aluno que no colégio busca o coordenador ou fala pro amiguinho que pode tentar se matar, essa pessoa a gente tem que olhar com calma. Ela pode realmente se matar”.

No futuro, o modelo criado pela equipe de Porto Alegre poderá se tornar ainda mais preciso pela inclusão de outros fatores de risco, como o sexo do paciente (no Brasil os homens se matam 4 vezes mais do que as mulheres), histórico de suicídio na família ou consumo de álcool ou outras drogas.

O professor não descarta que o aplicativo possa analisar inclusive variações no fenótipo digital do usuário, como o tom de voz ao telefone ou a velocidade de digitação.

Para o médico, este tipo de algoritmo deve tornar a medicina mais preventiva: “Hoje o sujeito chega deprimido no meu consultório. Imagina que no futuro talvez ele chegue muito antes. Não vamos tratar o episódio depressivo, vamos prevenir o episódio depressivo”.

O trabalho compôs a dissertação de mestrado de Gabriela de Ávila Berni e contou com a supervisão do professor Flávio Kapczinski, da McMaster University.

Para mim o mundo era preto e branco

Teresinha de Lourdes da Silva tem 60 anos e já tentou se matar duas vezes. A primeira foi há mais de 15 anos, depois do divórcio do ex-marido. Três anos depois, uma nova crise depressiva resultou na segunda tentativa de tirar a vida. “Eu não tinha mais graça em viver, para mim o mundo se resumia em preto e branco.”

As coisas começaram a mudar quando Teresinha decidiu levar a sério o tratamento, com consultas periódicas ao psiquiatra e uso de medicação. O apoio da família também foi fundamental, especialmente nos períodos mais críticos da depressão, em que ela não podia ficar sozinha em casa.

Ilustração mostra mão alcançando outraDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionAlgoritimo desenvolvido por pesquisadores brasileiros visa agir preventivamente

Teresinha voltou a trabalhar como babá e fica feliz de servir de exemplo para quem está passando por momentos difíceis. Seu principal conselho é procurar ajuda: “Nunca a gente consegue sozinho. Se eu não tivesse procurado um atendimento especializado eu tinha me consumido. Eles (profissionais de saúde) são os anjos da minha vida”.

Para o médico Ives Cavalcanti Passo, o caso de Teresinha comprova o quanto o suicídio pode ser evitado: “Se a pessoa tem ideação suicida, se tu identifica e trata bem, é um evento extremamente reversível”.

Virginia Woolf: traumas familiares e obscurantismo

A “paciente” escolhida no estudo do HCPA teve uma vida conturbada, seja pelo âmbito familiar como pelo contexto histórico que a Europa vivia na primeira metade do século 20.

Nascida em 1882 em um distrito de Londres, Reino Unido, Virginia Woolf cresceu em meio a artistas e intelectuais fortemente influenciados pelos pensamentos que surgiam na época, entre eles a psicanálise e o niilismo.

A professora do Programa de Pós-graduação em Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Elaine Indrusiak lembra que este ideário pré-guerras mundiais teve forte influência na vida e obra de Virginia Woolf.

“O choque entre a moralidade vitoriana muito rigorosa e o obscurantismo que começa a surgir, da falência de tudo (…) Virginia coloca em letras essa fragmentação que ela vivia e sentia na psique, mas que também é uma fragmentação da própria sociedade em que ela vive”.

No âmbito pessoal, a vida de Woolf foi marcada pelas perdas da mãe (aos 13 anos) e de dois irmãos. Várias biografias contam que ela e a irmã Vanessa foram abusadas sexualmente por dois meio-irmãos mais velhos.

Segundo Indrusiak, a escritora também não se conformava com a maneira como a sociedade subjugava as mulheres. Fatores que, associados ao diagnóstico de transtorno bipolar, explicam muitas das angústias reveladas nos diários e cartas analisados pelos médicos do HCPA.

Virginia Woolf
Direito de imagemCENTRAL PRESS/GETTY IMAGES
Image captionVirginia Woolf viveu em contexto familiar e histórico conturbados

Do ponto de vista literário, a professora destaca que Virginia Woolf é uma das escritoras que utilizaram de forma mais magistral a técnica do fluxo de consciência e destaca três obras da romancista inglesa: Rumo ao FarolMrs. Dalloway e Orlando.

O CVV – Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio de forma voluntária e gratuita pelo telefone 188, sob total sigilo, 24 horas por dia. Para mais informações sobre onde procurar ajuda para si ou para amigos e familiares, acesse: http://portalms.saude.gov.br/saude-de-a-z/suicidio.

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Livro “A Saideira” – Barbara Gancia

Livro A Saideira - Barbara Gancia

“Há pessoas cujas vidas imploram para ser escritas. O problema é que, para que isso aconteça, essa pessoa precisa estar viva. E Barbara Gancia preferia flertar com a morte, a bordo de copos e mais copos e ao volante de carros suicidas.

Em sua fase de esbórnia, Barbara viveu vários filmes de ação, cheios de alçapões invisíveis, quedas no abismo e ataques de ratos. Mas nenhum tão emocionante quanto sua luta pela sobriedade. Um dia, finalmente, depois de muitas recaídas, Barbara conseguiu parar a história. O resultado é A saideira, um livro que só ela poderia ter escrito. E cuja leitura encerra lições para todos nós que, tantas vezes, achamos que os prazeres que a vida nos oferecia estavam sendo dados de graça.” – Ruy Castro, escritor

Saiba mais em: https://www.planetadelivros.com.br/livro-a-saideira/287497

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Receita para medicamento controlado terá validade em todo o território nacional

Ana Amélia lembrou que a iniciativa vai beneficiar os pacientes que estão em tratamento e precisam viajar ou se consultar em outro estado / Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado
Ana Amélia lembrou que a iniciativa vai beneficiar os pacientes que estão em tratamento e precisam viajar ou se consultar em outro estado / Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

O Plenário do Senado aprovou, nesta terça-feira (16), a validade nacional das receitas de medicamentos controlados e manipulados. Conforme o texto do substitutivo da Câmara dos Deputados (SCD 4/2018) ao Projeto de Lei do Senado 325/2012, a receita médica ou odontológica valerá em todo o país, independentemente do estado em que tenha sido emitida. A matéria vai à sanção presidencial.

O objetivo da proposta do ex-senador Jayme Campos é permitir que o cidadão possa adquirir os medicamentos de que necessita onde quer que esteja, inclusive os sujeitos a controle especial.

Na Câmara, o texto foi alterado para dar nova redação ao parágrafo único do artigo 35 da Lei 5.991, de1973, que trata do controle sanitário do comércio de medicamentos, em vez de incluir um novo parágrafo, como previa o projeto original do Senado.

Além disso, os deputados estenderam a permissão aos medicamentos sujeitos ao controle sanitário especial. No entendimento da Câmara, explicitar os medicamentos sob controle especial é necessário, uma vez que, na prática, são os únicos remédios cujas receitas não podem ser aviadas fora do estado em que tenham sido emitidas.

A relatora da proposta na Comissão de Assuntos Sociais (CAS), senadora Ana Amélia (PP-RS), argumentou que as farmácias já contam com um rigoroso controle, exigem a receita médica e os documentos do paciente que vai usar o remédio. Em seu parecer, a ela lembrou que a iniciativa vai beneficiar os pacientes que estão em tratamento e precisam viajar ou se consultar em outro estado.

— Esse é um projeto de grande interesse da população porque uniformiza a receita médica em todo o território nacional. Quero aqui elogiar o autor dessa proposta que está voltando para esta Casa a partir de fevereiro de 2019 — acrescentou Ana Amélia em Plenário.

Fonte: Agência Senado

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DEPENDÊNCIA QUÍMICA – PREVENÇÃO, TRATAMENTO E POLÍTICAS PÚBLICAS 2ª EDIÇÃO

livro Dr Ronaldo

Apresentação

Nos últimos 30 anos, a produção, o consumo e o tráfico de substâncias ilegais, bem como a promoção, a comercialização e o consumo de substâncias legais (como tabaco e bebidas alcoólicas), se tornaram tema central da política pública mundial, gerando interesse sem precedentes tanto no público geral como entre pesquisadores, jornalistas, gestores e tomadores de decisão. A busca por soluções plausíveis, baseadas em evidências científicas e nos direitos humanos, para essas questões tem gerado discussões na sala de jantar de famílias afetadas ou preocupadas com as estatísticas que estão nos jornais e na internet todos os dias. O debate sobre o que fazer, quando, como e por que intervir extrapolou os limites acadêmicos, tornando-se um debate cidadão e político-econômico.

A avassaladora disponibilidade de informações na internet e nas redes sociais, que está relacionada ao interesse generalizado no consumo de drogas, na comparação entre elas e em seu impacto social e econômico, bem como nas alternativas para sua regulação, torna muito difícil distinguir o que é fato, teoria, comprovação científica ou mito sobre o assunto. Se, por um lado, o debate é necessário e se beneficia das múltiplas fontes de informação, das visões filosóficas, políticas e científicas existentes, bem como da experiência vivida por usuários, familiares e profissionais, por outro, ele pode rapidamente se transformar em discussões superficiais e que não levam a melhorias em relação aos problemas sanitários e sociais advindos do consumo de álcool e outras substâncias.

Este livro aborda de maneira integral e atualizada o conhecimento que é fundamental para tais discussões – políticas, científicas, clínicas e pessoais –, não só sobre a dependência química, mas sobre outras consequências do uso de substâncias tanto para quem consome como para quem é afetado pelo consumo de outras pessoas, em um só volume, escrito por profissionais de alta qualificação do Brasil.

Não existe uma solução única ou simples para o “problema das drogas”; a descrição precisa de qual é o problema por vezes é difícil, especialmente quando substâncias legais e ilegais são incluídas; no entanto, críticas sem base científica ou fatual têm norteado o debate por muitos anos e dificultado que decisões importantes, que beneficiariam a saúde individual e coletiva, sejam tomadas. Mesmo com a disseminação das melhores informações científicas disponíveis, ainda existirão muitas controvérsias que só poderão ser resolvidas com o debate respeitoso entre todos os atores da sociedade. “Drogas” é um tema político e continuará sendo influenciado por opiniões subjetivas e pelas perspectivas em relação à sociedade em que vivemos e à que queremos para o futuro. Mas o debate pode ser mais informado, democrático e com base na melhor evidência científica. E podemos melhorar a vida de milhões de pessoas que hoje sofrem aguda ou cronicamente, direta ou indiretamente, pelo uso de substâncias.

Maristela Goldnadel Monteiro , MD, PhD
Assessora Principal para Álcool e Outras Drogas Organização Panamericana da Saúde

Para mais informações, clique aqui.

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Adolescentes que fumam e bebem têm prejuízos à saúde já aos 17 anos, aponta estudo

Adolescentes bebendo e fumando

 

Adolescentes que bebem e fumam já têm danos perceptíveis em suas artérias aos 17 anos de idade, concluiu um estudo.

Testes conduzidos por pesquisadores da Universidade College London e da Universidade de Bristol, ambas no Reino Unido, mostraram que há um enrijecimento das artérias por conta desses hábitos quando ainda se é bem jovem.

Este efeito está ligado a um aumento do risco de problemas cardíacos e em vasos sanguíneos, como AVC e infarto, em idade mais avançada.

Publicada no periódico científico European Heart Journal, a pesquisa também detectou, contudo, que as artérias dos adolescentes voltaram ao normal quando eles pararam de fumar e beber.

Problemas arteriais precoces

Os cientistas estudaram dados coletados entre 2004 e 2008 de 1.266 pacientes que participaram do Avon Longitudinal Study of Parents and Children (ALSPAC), que reuniu informações de saúde de 14,5 mil famílias de Bristol, na Inglaterra

Os participantes detalharam seus hábitos em relação ao tabaco e à bebida aos 13, 15 e 17 anos, e exames foram realizados para verificar se havia ocorrido algum enrijecimento arterial.

Foi informado, por exemplo, quantos cigarros já se havia fumado na vida e a idade em que se começou a beber álcool, além da frequência e intensidade com que faziam isso.

Entre aqueles que haviam fumado mais de cem cigarros até o momento dos testes ou que consumiam mais de dez doses de álcool nos dias em que bebiam havia uma maior incidência de enrijecimento das artérias do que entre participantes que tinham fumado menos de 20 cigarros durante a vida ou tomavam menos de duas doses nos dias em que consumiam álcool.

“Beber e fumar na adolescência, mesmo em níveis inferiores àqueles informados em estudos com adultos, está associado a enrijecimento arterial e à progressão da arterioesclerose”, diz o autor principal do estudo, John Deanfield, do Instituto de Ciência Cardiovascular da Universidade College London.

“No entanto, também descobrimos que, se adolescentes param de fumar ou beber durante a adolescência, suas artérias retornam ao normal, indicando que há a chance de preservar a saúde arterial ainda quando se é jovem.”

Marietta Charakida, que participou da pesquisa, explica que o dano aos vasos sanguíneos por conta destes hábitos “se dá ainda em um momento precoce da vida”. “Quando se faz as duas coisas juntas, os prejuízos são ainda maiores”, diz Charakida.

“Ainda que estudos mostrem que adolescentes vêm fumando menos nos últimos anos, nossos resultados indicam que aproximadamente um a cada cinco fuma aos 17 anos. Em famílias em que os pais são fumantes, há maior probabilidade de adolescentes fumarem.”

Fumo em queda e bebida em alta entre adolescentes no Brasil

No Brasil, estima-se que 18,5% dos adolescentes brasileiros entre 12 e 17 anos, ou 1,8 milhão de jovens, já experimentaram cigarro, de acordo com um estudo divulgado em 2016.

A pesquisa Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes, feita pelo Ministério da Saúde e pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em parceria com outras 33 instituições de ensino superior, consultou 75 mil adolescentes de 1.251 escolas públicas e privadas em 124 municípios do país, por meio de questionários e exames.

Pessoas segurando copos de cervejaDireito de imagemGETTY IMAGES – Consumo de bebida alcóolica vem aumentando entre adolescentes brasileiros

Em 2009, um outro estudo, a Pesquisa Nacional de Saúde Escolar, apontou que 24% dos adolescentes tinham fumado pelo menos uma vez, o que indica que o número de fumantes neste grupo pode estar em queda. No entanto, o público-alvo desta pesquisa tinha entre 13 e 15 anos.

Ao mesmo tempo, o consumo de bebida alcóolica vem aumentando entre adolescentes, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde Escolar, divulgada em 2016 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O trabalho mostrou que 55,5% dos 2,6 milhões de estudantes que estavam no último ano do ensino fundamental já haviam bebido alguma vez na vida, um crescimento em relação ao levantamento de 2012, quando 50,3% estudantes disseram já ter feito isso. E 21,4% dos participantes do estudo mais recente tiveram algum episódio de embriaguez na vida.

Breno Caiafa, presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular do Rio de Janeiro (SBACV-RJ), diz que a queda no número de fumantes jovens é fruto de um trabalho intenso de conscientização sobre os malefícios do tabaco nos últimos anos, mas avalia que o mesmo esforço não tem sido feito com o álcool.

“Isso merece um cuidado maior do governo. Hoje, as campanhas dizem ‘se beber, não dirija’, mas não falam para não beber. As empresas de bebidas vão continuar a fazer propaganda livremente se não forem pressionadas, como ocorreu com o fumo”, afirma Caiafa.

“Estudos mostram que beber moderadamente até pode fazer bem, mas o álcool não deixa de ser uma droga e, se consumido em excesso, gera alterações hepáticas e ganho de peso, enrijece as artérias e aumenta as chances de um AVC. Se tem esses efeitos, precisa ser controlado. O álcool talvez esteja sendo subestimado.”

‘Sinal encorajador’

Caiafa avalia que o estudo britânico traz novidades ao mostrar o impacto do álcool e da bebida ainda na juventude. “Já sabíamos dos efeitos negativos a médio e longo prazo, mas não a tão curto prazo”, diz.

Ele explica que esses hábitos danificam a parede das artérias, gerando uma lesão à camada interna dos vasos, o que leva à formação de placas, provocando um enrijecimento e estreitamento arterial e, como consequência, há um aumento da pressão sanguínea.

“O estudo mostrou que essa inflamação diminui quando a pessoa para de fumar e beber e que o organismo se recupera, mas é preciso cuidado, porque, se a obstrução estiver em estágio avançado, dificilmente vai regredir.”

Metin Avkiran, diretor médico associado da British Heart Foundation, organização que financiou parte da pesquisa, diz que o fato dos danos poderem ser revertidos é um “sinal encorajador”.

“Parar de fumar é a melhor decisão que você pode tomar para proteger seu coração. E, se você bebe, não o faça de forma excessiva e siga as recomendações (das agências de saúde)”, afirma.

“Nunca é tarde demais para fazer mudanças que podem acabar salvando sua vida.”

* Com reportagem de Rafael Barifouse, da BBC News Brasil em São Paulo

 

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TRATAMENTO PARA USUÁRIOS DE MACONHA

Tratamento para usuários de maconha

*Por Adriana Moraes

A cannabis é a droga psicoativa ilícita mais usada no mundo, a estimativa da OMS (Organização Mundial de Saúde) é de que haja 181,8 milhões de usuários da droga em suas preparações mais comuns, como maconha e haxixe, com idade entre 15 e 64 anos no mundo. [1]

A terapia cognitivo-comportamental (TCC) tem sido utilizada com sucesso no tratamento de problemas de uso de substâncias psicoativas, especialmente na prevenção de recaída auxiliando o usuário de maconha a identificar e lidar com as situações de alto risco perante a substância. Pode ser definida como um conjunto de intervenções semiestruturadas, objetivas e orientadas para metas, considerando fatores cognitivos (e seus desdobramentos) e comportamentais, é tida como uma ferramenta importante para o tratamento da dependência em si e também para a reestruturação de toda a vida do indivíduo.

As drogas alteram o sistema nervoso central (SNC) do individuo, mudando seu humor, percepção, estado emocional, comportamento e aprendizagem. O THC (principal componente ativo da maconha) afeta primeiramente o funcionamento do sistema cardiovascular e nervoso central. O aumento da pulsação é seu efeito fisiológico observado com mais frequência, apesar de a pressão sanguínea ser pobremente afetada. Os vasos sanguíneos da córnea se dilatam, resultando em olhos avermelhados (frequentemente observados em pessoas que acabaram de fumar maconha). Os usuários costumam referir aumento do apetite, boca seca, vertigens ocasionais e leves, náuseas. [2]

O relatório da OMS afirmou que o uso diário de cannabis (maconha) durante anos e décadas parece produzir perdas persistentes de memória e cognição, especialmente quando seu uso começa na adolescência. As evidências mostram que o uso prolongado da maconha pode acarretar alterações sutis nas “funções cognitivas superiores” da memória, atenção, organização e integração de informações complexas, que podem afetar o funcionamento no dia a dia. [3]

O efeito do THC no cérebro ocorre por meios dos receptores específicos no SNC (córtex, hipocampo, hipotálamo, cerebelo, amígdala, giro do cíngulo anterior e gânglios da base) com a ocorrência de alterações cognitivas.

Tratamento

Apesar de muitos prejuízos do consumo prevalente, são poucos os usuários de maconha que buscam tratamento. A maioria dos dependentes de maconha encontra-se no estágio da pré-contemplação, ou seja, o usuário não encara seu uso como problemático ou causador de problemas, tampouco considera algum tipo de mudança. Em geral, não busca tratamento voluntariamente, e sim por causa dos pais, família, escola, trabalho ou por encaminhamento judiciário.

No inicio do tratamento é importante que o paciente se conscientize sobre seu problema, conhecendo os efeitos da droga de abuso; que perceba a necessidade de mudar seu comportamento de uso e junto com o terapeuta se prepare para fazer essa mudança.

O tratamento do usuário de maconha acontece em etapas. Primeiro deve-se informar ao paciente sobre a substância, já que muitos não conhecem seus efeitos, seus prejuízos. Em seguida deve-se motivar o paciente para a mudança, orientando-o para que aceite o tratamento e definindo objetivos. [3]

Alteração das funções cognitivas

A maconha vai agir principalmente nas áreas cerebrais responsáveis pela coordenação, percepção do tempo e espaço, julgamento e memória, além de agir indiretamente no sistema de recompensa cerebral. As evidências mostram que o uso prolongado da maconha pode acarretar alterações cognitivas sutis nas “funções cognitivas superiores” da memória, da atenção, organização e integração de informações complexas, que podem afetar o funcionamento do indivíduo no dia a dia. [3]

Terapia Cognitivo-comportamental (TCC)

O psiquiatra Aaron Beck desenvolveu a terapia cognitiva para o tratamento da depressão como um método estruturado, de curto prazo, orientado para o presente e dirigido para a resolução de problemas atuais, por meio da modificação do pensamento e do comportamento disfuncional, seu uso foi rapidamente estendido para diversas outras patologias, entre elas a dependência química.

De acordo coma perspectiva cognitiva proposta por Aaron Beck, o modo como uma pessoa interpreta uma situação específica influencia seus sentimentos, suas motivações e ações. Essas interpretações, por sua vez, são moldadas pelas crenças ativadas pelas situações. [3]

A terapia cognitivo-comportamental é eficaz durante o tratamento do usuário de maconha, fazendo com que o paciente perceba a necessidade de mudar seu comportamento em relação ao uso da droga. Esse modelo de tratamento concentra-se basicamente no que está acontecendo em sua vida nos momentos atuais ao invés de buscar causas no passado.

As técnicas cognitivo-comportamentais ensinam habilidades relevantes para auxiliar na redução ou cessação do consumo da substância psicoativa e capacitam o indivíduo a lidar com outros problemas, que podem afetar os resultados do tratamento.

Um dos principais objetivos da terapia cognitivo-comportamental é identificar e corrigir distorções cognitivas que geram problemas para o indivíduo e auxiliar no desenvolvimento de estratégias de enfrentamento destas situações que põem em riscos o alcance dos objetivos estabelecidos durante o tratamento.

O dependente de forma geral sente-se incapaz de desenvolver suas atividades diárias sem o uso da substância psicoativa. A TCC procura produzir mudanças no pensamento e no sistema de crenças do paciente, auxilia o paciente a ver vantagens em estar sem consumir a substância, ajudando-o a identificar as situações de alto risco em relação ao uso da maconha, fazendo-o a buscar alternativas para lidar com essas situações.

Princípios Básicos da Terapia Cognitivo-comportamental

Princípio nº 1 – A terapia cognitivo-comportamental está baseada em uma formulação em desenvolvimento contínuo dos problemas dos pacientes e em uma conceituação individual de cada paciente em termos cognitivos.
Princípio nº 2 – A terapia cognitivo-comportamental requer uma aliança terapêutica sólida.
Princípio nº 3 – A terapia cognitivo-comportamental enfatiza a colaboração ativa.
Princípio nº 4 – A terapia cognitivo-comportamental é orientada para os objetivos e focada nos problemas.
Princípio nº 5 – A terapia cognitivo-comportamental enfatiza inicialmente o presente.
Princípio nº 6 – A terapia cognitivo-comportamental é educativa, tem como objetivo ensinar o paciente a ser seu próprio terapeuta e enfatiza a prevenção de recaída.
Princípio nº 7 – A terapia cognitivo-comportamental visa ser limitada no tempo.
Princípio nº 8 – As sessões da terapia cognitivo-comportamental são estruturadas.
Princípio nº 9 – A terapia cognitivo-comportamental ensina os pacientes a identificar, avaliar e responder aos seus pensamentos e crenças disfuncionais.
Princípio nº 10 – A terapia cognitivo-comportamental usa uma variedade de técnicas para mudar o pensamento, o humor e o comportamento.

A TCC é uma terapia voltada para o problema geralmente aplicada em um formato de curto prazo. As sessões devem ser estruturadas, com agenda programada e com duração de 50 minutos a 60 minutos. Utiliza métodos de estruturação, com o estabelecimento de agenda e feedback, para maximinizar a eficácia das sessões de tratamento, ajudar os pacientes a organizar seus esforços em direção à recuperação e identificar o aprendizado.

Mais informações sobre a Terapia Cognitivo-Comportamental e Dependência Química:

https://www.uniad.org.br/interatividade/livros/item/25845-o-tratamento-da-depend%C3%AAncia-qu%C3%ADmica-e-as-terapias-cognitivo-comportamentais

livro dr ronaldo

*Adriana Moraes – Psicóloga da SPDM (Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina) – Especialista em Dependência Química – Colaboradora do site da UNIAD (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas).

Referências:

[1]https://nacoesunidas.org/oms-cannabis-e-droga-ilicita-mais-consumida-no-mundo-com-180-milhoes-de-usuarios/
[2] Aconselhamento em dependência química / Neliana Buzi Figlie, Selma Bordin, Ronaldo Laranjeira. 2ª ed. São Paulo: Roca, 2010.
[3] Zanelatto, Neide. A. O tratamento da dependência química e as terapias cognitivo-comportamentais: um guia para terapeutas/ Organizadores, Neide A. Zanelatto, Ronaldo Laranjeira – Porto Alegre: Artmed, 2013.

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Estudo afirma: uso de maconha por adolescentes aumenta risco de psicose

Estudos mostram que pessoas propensas a problemas mentais geralmente são mais atraídas por entorpecentes

Pessoas sadias sem histórico familiar de doença mental têm risco maior de desenvolvimento de psicose do que quem não é usuário. (//iStock)

Um estudo conduzido pela pesquisadora Patricia Conrod, professora de psiquiatria da Universidade de Montreal, no Canadá, chegou a uma conclusão preocupante: o uso de maconha por adolescentes aumenta diretamente o risco de desenvolvimento de psicose. O estudo foi publicado no início do mês de junho, pelo respeitado jornal JAMA Psychiatry.

O levantamento contou com a participação de 3.720 adolescentes da área metropolitana de Montreal que, por 4 anos, responderam a uma pesquisa anual e sigilosa via internet, na qual relatavam o uso ou não de cannabis e sintomas depsicose. O número representa 76% dos alunos da 7ª série que frequentam 31 escolas secundárias na região.  A pesquisa foi dividida em quatro períodos, com intervalo de 12 meses entre eles. No primeiro, os participantes tinham uma média de idade de 12,8 anos.

O resultado? Em todos os períodos foram identificadas, em níveis estatísticos relevantes, associações positivas entre o uso de maconha e sintomas de psicose, relatados um ano após o consumo da droga. Além disso, 86,7% dos participantes tiveram, no mínimo, dois períodos com relatos de sintomas de psicose. Já 94,4% dos adolescentes também relataram ao menos dois períodos de uso de cannabis. Tal situação demonstra-se preocupante no país, pois, segundo Conrod, pesquisas indicam que aproximadamente 30% dos estudantes mais velhos do ensino médio na província canadense de Ontário usam maconha.

A busca pela causalidade

O principal objetivo deste estudo era identificar ou descartar se o consumo de maconha estava diretamente relacionado ao surgimento posterior de sintomas da doença, em um cenário com alguns desafios. O primeiro? É durante a adolescência que geralmente começam tanto a psicose, quanto o uso de cannabis. O segundo: as informações sobre causalidade ainda são escassas. Grande parte desta situação se deve à forma como a maior parte das pesquisas sobre o tema tem sido feita até então, utilizando metodologias que promovem resultados sujeitos a questionamentos.

Para superar tais desafios, os pesquisadores usaram uma técnica complexa chamada Random Intercept Cross-Lagged Panel Model (RI-CLPM), que promove a coleta, análise e cruzamento de dados em diversos níveis.

As informações coletadas foram avaliadas em um teste de sintomas similares aos psicóticos em adolescentes, e em uma escala de seis pontos de frequência de uso de maconha. Dentre outras medidas, a técnica permitiu a análise individual das respostas dos participantes, por período e de forma geral, a comparação com o grupo e também dos perfis dos adolescentes.

Com os resultados finais em mãos, os pesquisadores puderam identificar de forma segura e individual se o aumento no consumo de maconha precede o aumento dos sintomas de psicose, e vice-versa. Foi possível inclusive diferenciar causalidade direta e associações temporais entre a droga e a doença.

É importante ressaltar que a pesquisa baseia-se em relatos dos adolescentes. Porém, os pesquisadores levaram isso em consideração, tendo estudado trabalhos anteriores, que indicam que a taxa de acerto em tais relatos varia de 80% a 100%. Além disso, a mecânica da pesquisa, totalmente confidencial e sem oferecer consequências aos jovens, proporcionou garantias aos adolescentes, que se sentiam mais à vontade para responder os questionamentos.

A importância dos resultados

Este estudo é hoje o teste mais rigoroso que se tem conhecimento sobre o assunto. A literatura médica mostra que pessoas propensas a problemas mentais geralmente são mais atraídas por entorpecentes, mas o levantamento mostra o caminho contrário – no caso da maconha, pessoas sadias que consomem a droga, mesmo sem histórico familiar de doença mental ou maior suscetibilidade aos efeitos da substância, têm um risco maior de desenvolvimento de psicose do que quem não é usuário.

A novidade chega em um momento muito importante para o Canadá, que aprovou o consumo e cultivo da droga para maiores de 18 anos a partir de outubro. Muito se fala a respeito da diminuição da criminalidade e também do valor bilionário que pode ser arrecadado em impostos com a legalização e venda de maconha. Mas estas alegações precisam ser debatidas.

No primeiro caso, creio que se trata de uma conjectura, pois não existem dados conclusivos que demonstrem que a descriminalização acabe com o tráfico. Se atualmente ele já promove um mercado paralelo de cigarro e bebidas alcoólicas (contrabandeados ou falsificados), o que o impedirá de fazer o mesmo com a maconha? O European Monitoring Centre for Drugs and Drug Addiction indica que em Portugal, que descriminalizou o consumo de drogas, o tráfico até aumentou.

Já com relação aos impostos arrecadados, fico me questionando se tal valor compensa o impacto que certamente será provocado à saúde dos usuários e, consequentemente, à rede pública de saúde. A entidade governamental norte-americana Centers for Disease Control and Prevention (CDC) estimou em 2016que o abuso de álcool, uma droga legal, custava aos contribuintes, setor industrial e cofres públicos dos Estados Unidos 249 bilhões de dólares por ano (mais de 921 bilhões de reais). Você não leu errado, as cifras são impressionantes e seguem a linha de outros levantamentos que também apontam impactos bilionários.

Com isso em mente, afirmo: medidas como essa não podem ser tomadas baseando-se em debates filosóficos. Se cercar das melhores informações, para tomar decisões abalizadas em fatos é crucial. Porém, enquanto as evidências científicas confiáveis apontam para um lado, as políticas públicas (muito afetadas por lobby político ou financeiro) seguem para outro. Não se pode brincar com a vida das pessoas, mas, infelizmente, é isso que está acontecendo.

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