Sites chineses comercializam drogas ilegais e contam com serviço de entrega em domicílio

The New York Times Nicholas D. Kristof
Em Pequim (China)

Você quer comprar drogas ilegais na China? Sem problema – basta acessar a louca e confusa rede mundial de computadores – mais conhecida como internet –e encomendar um pacote de metanfetaminas, ecstasy ou cocaína no valor de US$ 50 ou US$ 100. Ele será entregue em sua casa em poucas horas!

“Nossa empresa tem centros de distribuição em todas as regiões da China”, alardeia um site em língua chinesa, que exibe fotos dos narcóticos ilegais que comercializa. “Nós oferecemos serviço de entrega na porta de sua casa 24 horas por dia, e dispomos de suprimentos constantes e de longo prazo. Basta ligar que nós lhe entregaremos seu pedido dentro de uma a cinco horas”.

Outro site chinês oferece metanfetamina no atacado por US$ 19.700 o quilo, ou entrega quantidades menores em sua casa, em centenas de cidades da China. Até mesmo na remota província de Anhui o site entrega drogas em 21 cidades diferentes.

Tudo isso é completamente ilegal na China, país onde os traficantes de drogas são rotineiramente executados. Mas a comercialização de drogas online não parece ser uma das prioridades do governo chinês, uma vez que esses sites nem mesmo são fechados ou bloqueados. Dezenas de milhares de censores apagam referências a violações de direitos humanos, mas eles ignoram os inúmeros sites chineses que vendem drogas, armas ou prostitutas.

Não lhe parece estranho a China bloquear o Facebook, o YouTube e o jornal The New York Times, mas dar de ombros a, digamos, armas?

A lei chinesa é rígida no controle da posse de armas, mas leva apenas alguns minutos para que uma busca em chinês na internet localize sites que vendem, por exemplo, pistolas Springfield XD-9 de 9 milímetros por US$ 1.120 – que são ilegais no país. Ou pistolas Type 54 semi-automáticas chinesas de uso militar por US$ 640. Ou rifles e muito mais. E a coisa não para por aí.

“Para obter os preços dos silenciadores, entre em contato com o nosso serviço de atendimento ao cliente”, informa o site.

(Entusiastas de armas dos Estados Unidos muitas vezes argumentam que precisamos de armas de fogo para nos proteger do governo. Mas a situação na China sugere que o que os autocratas realmente temem não são as pessoas que têm armas, mas sim os cidadãos armados de informações e de relatos das redes sociais.)

Para dizer a verdade, a China é muito mais sensata do que os EUA quando o assunto são armas de fogo. Pelo menos, as autoridades chinesas não toleram lojas de armas que vendem abertamente rifles de assalto e armas com câmaras de repetição de alta capacidade. Eu convido os jornalistas chineses a escrever sobre a irresponsabilidade dos políticos norte-americanos, que não fazem nenhum esforço sério para reduzir o número de vítimas gerado pelas armas de fogo nos Estados Unidos.

Mas, caso seus interesses estejam relacionados a temas mais lascivos, a internet da China também está abarrotada de sexo e prostituição. O GHB, mais conhecido como a droga do estupro, é amplamente comercializado no país – e os sites trazem descrições arrepiantes.

“Se ela beber isso, ela será sua”, promete um vendedor da internet, descrevendo o GHB como o “líquido obediência”. Outro site diz: “Apenas dois comprimidos vão fazê-la dormir profundamente. Assim, independentemente de como você mexer nela, ela não acordará. E, ao despertar, ela não se lembrará de nada”.

A conclusão é que a maioria dos chineses não será capaz de acessar esta coluna, mas eles podem facilmente acessar a internet para comprar armas de fogo ou drogas.

Olhando de fora, os ocidentais às vezes veem a China como um país rigidamente controlado. Mas, de perto, às vezes parece o oposto. Existem regras, mas geralmente elas são aplicadas de modo frouxo ou são negociáveis.

No entanto, as autoridades escolhem algumas áreas prioritárias sobre as quais desejam manter a pressão – e uma dessas área está relacionada à restrição de informações que possam causar instabilidade política. Por isso, as autoridades bloqueiam os principais sites de redes sociais e, mais recentemente, bloquearam o site do jornal “The New York Times” e da agência de notícias Bloomberg após a divulgação de relatos de que familiares de líderes chineses se tornaram fabulosamente ricos.

É uma homenagem ao impressionante desenvolvimento econômico da China que o país tenha hoje cerca de 540 milhões de usuários de internet – mais do que qualquer outro país do mundo. Mas é triste ver os atuais líderes chineses retrocedendo para uma visão mais estreita da internet. “Como poderemos desenvolver nossas habilidades”, um amigo chinês me perguntou retoricamente “se nós nem mesmo conseguimos visitar alguns dos sites mais populares do mundo?”

Muitos chineses fazem acrobacias para burlar o Grande Firewall da China – por meio de redes privadas virtuais ou VPNs – e conseguir acessar os sites proibidos no país. Mas, no mês passado, a China lançou um novo software que interfere nas VPNs – até mesmo naquelas utilizadas por empresas dos EUA para acessar suas redes internas. O governo chinês também está tentando reprimir o Sina Weibo, versão chinesa do Twitter, ao obrigar que seus usuários se registrem com seus nomes verdadeiros.

Essas restrições ao acesso à internet irritam muitos jovens chineses, que podem não pensar muito a respeito da democracia multipartidária, mas querem ser capazes de assistir vídeos do YouTube.

Minha esperança é que o novo líder chinês, Xi Jinping, reconhecerá que a competitividade econômica e a capacidade da China para combater a corrupção dependem de abertura. Deng Xiaoping costumava comparar as reformas à abertura de uma janela – e até admitia a entrada de algumas moscas junto com o ar fresco. Durante o período em que Deng ficou no poder, a China adotou tecnologias de comunicação potencialmente problemáticas – como fotocopiadoras, telefones celulares, aparelhos de fax – devido ao fato de elas também serem indispensáveis para a modernização do país. E uma internet livre também é uma dessas tecnologias.

Então, para o novo Politburo, fica a sugestão: que tal reprimir os sites que vendem armas e drogas e deixar em paz só aqueles que praticam o tráfico de ideias e informações?

Tradutor: Cláudia Gonçalves

Sobre Clínica Gressus

A Clínica Alamedas tem o prazer de divulgar o seu novo nome de domínio e marca, Clínica Gressus. A dependência química está relacionada a diversas questões, seja no aspecto psicológico, biológico, social, econômico ou cultural de toda a família e pessoas ao redor do paciente. A clínica Alamedas possui uma estrutura completa com profissionais competentes e experientes para ajudar cada paciente e a sua família a superar a dependência química, com qualidade de vida e saúde.
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